sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Natal e a esperança de um ano bom






Deixando de lado o verdadeiro significado do Natal e aqueles momentos que, inevitavelmente, paramos pra analisar todas as coisas que fizemos e, por fim, nos propomos a iniciar com o pé direito o próximo ano, quero contar por quê já não gosto tanto desta época do ano. O primeiro motivo é simples: não gosto da estação do ano, no Natal. Acho que o "Natal do Bom Velhinho" é perfeito quando há neve, lareira e toda aquela parafernália americana, vamos ser sinceros... Além disso, eu prefiro o inverno – e me refiro ao inverno do sul do Brasil – inclusive para tirar férias, porque posso fazer, nesta estação, todas as coisas que realmente, importam: dormir, comer, beber vinho tinto, ler embaixo das cobertas e namorar – de preferência embaixo das cobertas, também. Como sou uma exceção à regra, prefiro, inclusive, tirar férias no inverno, mas como também quero ser normal, costumo tirar só 15 dias. O que ocorre é que, no verão, quando não estou de férias, não consigo trabalhar como gostaria porque não encontro as pessoas e lugares que preciso, “funcionando” como deveriam. Ninguém funciona muito bem no verão do Brasil, mesmo no sul, onde não faz tanto calor; é uma questão genética, eu acho. Outro motivo que tem contribuído para deixar o Natal sem graça, em minha opinião, é porque não ganho mais bonecas de presente do Papai Noel e nem encontro com meus primos na casa da minha avó e, pelo que me lembro dos meus doze primeiros natais, isso resumia toda a magia.

Acho que foi por isso que o último registro que pretendia postar no meu blog em 2010 iniciou tão melancólico, em tempo, suprimi a idéia. Enquanto escrevia, lembrei de um texto que está no início do livro "Pássaros Feridos" de Colleen Mccullough e, não sei por que, achei que resumiria bem o meu ano:

"Existe uma lenda acerca de um pássaro que só canta uma vez na vida, com mais suavidade que qualquer outra criatura sobre a terra. A partir do momento em que deixa o ninho, começa a procurar um espinheiro-alvar e só descansa quando o encontra. Depois, cantando entre os galhos selvagens, empala-se no acúleo mais agudo e mais comprido. E, morrendo, sublima a própria agonia e despede um canto mais belo que o da cotovia e o do rouxinol. Um canto superlativo, cujo preço é a existência. Mas o mundo inteiro pára para ouvi-lo, e Deus sorri no céu. Pois o melhor só se adquire à custa de um grande sofrimento”

Antes de postar, compartilhei minha idéia com um amigo e levei um “puxão de orelhas”. Ele me disse que não havia muito sentido no meu texto, porque meu ano não foi uma rosa cinzenta e não devo “resumir tudo a uma sensação de vazio, mas sim, valorizar a possibilidade de poder desfrutar novamente do sol”, mais ou menos com estas palavras.

De fato, teria sido uma bela, porém triste reflexão para encerrar um ano. É verdade que toda a descoberta implica em algum sofrimento, antes da libertação e da mudança. Assim é o nascimento de uma criança, a saída de uma borboleta do casulo. O que nos torna diferentes do “pássaro ferido” do texto é: no decorrer de um ano ou de uma década inteira, com quantos espinheiros nos deparamos e quantos cantos entoamos, belos ou não, superlativos ou não, cantos que contam histórias nossas, e somente nossas?!

Quero dizer que valeu a pena. Valeu pelas sensações experimentadas, pelas descobertas, porque, de certa forma, os fins justificam os meios. Valeu pela lembrança de que o instinto de sobrevivência e proteção ainda é soberano e pulsa mais forte a vontade de viver. Viver para ver os filhos crescerem, viver para correr atrás dos sonhos, viver por alguma coisa maior que tudo isso e que só é revelada a custa da experiência de viver dia após dia. E, no final das contas, entender que o que nos liberta e revela o verdadeiro sentido da existência humana é o afeto mais profundo, o amor pelo outro e por todas as coisas que nos cercam, e o conhecimento, alimento imprescindível do ser.

Por tudo isso, meu canto será melhor em 2011 e desejo que assim seja para todos nós!

Fotos: estações do ano, em 2010: eu e Fran (irmão), eu e Ana (meu passarinho)

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Os caminhos de Alice


Foi o Chapeleiro Maluco quem perguntou à Alice:

- Você já sabe por qual caminho deve seguir?

O Chapeleiro, que tinha o estranho hábito de recomeçar o “chá das cinco” a todo o momento, porque brigou com o tempo. Aí o tempo resolveu parar e o relógio não andava mais até que ele conheceu Alice. Alice gostava de tomar chá com o chapeleiro. Ela não compreendia, às vezes, onde ele queria chegar com seus enigmas, mas no final, sempre havia uma lógica perfeita na sua “maluquice” e ela percebia que conseguiria desvendar, porque ele os fazia pra ela e com base nas suas histórias tristes e confusas. O chapeleiro amava as histórias de Alice e passou a fazer parte delas, como um personagem fundamental.

Então, os caminhos que ela seguiu, em sua companhia, passaram por velhas mulheres, donas de poções mágicas, passaram por artistas e poetas loucos, passaram por músicos cujas canções acalentavam e acalmavam toda a energia misteriosa que ela trazia consigo, como se desvendassem sentimentos que traduzissem o que se passava com ela. Os caminhos levavam à outros tempos e lembranças, bem distantes, passavam por florestas, constelações e por revelações que a deixavam maravilhada e, algumas vezes, confusa. Algumas amedrontavam, mas vinham acompanhadas de estratégias de compreensão ou sublimação que a faziam sentir mais poderosa, dona dos seus sentimentos e emoções, outrora desencontrados e descontrolados.

À certa altura do caminho, ele apresentou à ela personagens interessantes, sábios pensadores, filósofos, médicos, magos ou santos, que mudarão pra sempre a sua vida. Ele revelou que alguns deles podem andar sempre em sua companhia e que o que ela procura está com ela, guardado bem lá no fundo, basta procurar com calma e compreender o sentido de encontrar este tesouro.

Contudo, ela ainda está insegura para seguir sozinha, precisa e deseja estar de mãos dadas com ele, porque tem muitas perguntas. Alice sabe que não será assim pra sempre, mas também sabe que o Chapeleiro sente-se bem com ela. Talvez os dois, inconscientemente, tenham optado por seguir o caminho juntos por algum tempo, ou até que ele faça as pazes com o tempo e também possa seguir sem ela.

Ao “Chapeleiro Maluco”, com carinho...

Alice.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010


Quem não gosta dele??
Sim, na minha opinião a voz é terrível, tediosa... Mesmo assim, vamos combinar: alguma música dele fica tão maravilhosa com outro interprete? Não.
Mesmo as poesias que retratam dramas e desamores de mulheres; mesmo estas só têm alma quando são contadas/cantadas na tua voz, Chico!
Então, segue um pouco da alma feminina de um homem com H e adoráveis olhos cor de ardósia...
... E as vezes ele consegue ser cruel como poucas mulheres!!!

Olhos nos olhos
Chico Buarque

Quando você me deixou, meu bem,
Me disse pra ser feliz e passar bem.
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci,
Mas depois, como era de costume, obedeci.
Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer.
Olhos nos olhos,
Quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais
E que venho até remoçando,
Me pego cantando, sem mais, nem por quê.
Tantas águas rolaram,
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você.
Quando talvez precisar de mim,
Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim.
Olhos nos olhos,
Quero ver o que você diz.
Quero ver como suporta me ver tão feliz.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Sobre desafios e ousadia...


Gostaria de compartilhar com o mundo minha alegria!
Não se trata de masoquismo quando se ama o que faz, então... lá vou eu, rumo à batalha de 4 anos que será o Doutorado em Enfermagem da UFSC!
Deixarei de lado, momentaneamente, coisas importantes, mas jamáis esquecidas, certamente!Peço licença, mas devo ir, ainda assim! Meu lar neste tempo será dividido entre o litoral tão belo, que abandonei há um tempo atrás, e o oeste de Santa Catarina, onde aprendi tantas coisas nestes últimos 4 anos em que aqui resido - e onde farei a minha pesquisa, se assim Deus quiser!!
Agradeço aos amigos, familiares e colegas que acreditaram no meu potencial!
Deixo uma frase de Charles Chaplin, enviada por um destes amigos e que cabe, exatamente, agora...

"Bom mesmo é ir a luta com determinação, abraçar a vida com paixão, perder com classe e vencer com ousadia. Pois o triunfo pertence a quem se atreve... A vida é "muito" para ser insignificante". (Charles Chaplin)

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Anime-se e inspire-se: 2011 chegou!!

Clarice Pinkola Estés é o meu “tema de casa” para as férias. Comecei antes mesmo de terminarem as aulas e já encontrei bons conselhos para seguir em 2011:
“...ser sábia e ao mesmo tempo estar sempre à procura de novos conhecimentos; ser cheia de espontaneidade e confiável; ser loucamente criativa e obstinada; ser ousada e precavida; abrigar o tradicional e ser verdadeiramente original...” (Estés,2007: A ciranda das mulheres sábias).

Não parece difícil e ela sugere que um bom começo pode ser utilizar as quedas, hesitações, o tempo perdido e tudo o que foi “out” como combustível pra avançar pelo caminho certo. Ok, vamos lá...

1 – Eu não gosto de malhar e comer frutas e preciso melhorar meus hábitos para ser saudável (ao menos no campo: hábitos e estilos de vida saudáveis da Carta de Ottawa para a Promoção da Saúde). Meta: vou caminhar duas vezes por semana e comer uma fruta por dia – pouco original, mas, relativamente, clássico;

2 – Vou deixar alguma coisa pra fazer amanhã, todos os dias – menos obstinada e precavida e, verdadeiramente, original!!! (não ria, isso é muito complicado pra mim);

3 – Terceira meta importante: cultivar melhor as amizades - completamente sábio!

Ok, sou uma “mulher alpha”, é isso? Então, acrescentaria aos sábios conselhos de Estés: ser forte e ao mesmo tempo frágil; sagaz e ingênua; sincera e nebulosa... é tudo uma questão de perceber o momento certo e como se apresentar. Outra alternativa poderia ser resumida em uma só palavra: “sublimar” – algo que preciso exercitar a partir da sábia opção de “ficar calada” e “só falar quando for necessário” – até parece fácil, se tirar por base tudo que eu escrevo, imagine a minha dificuldade pra fazer isso...

Tem uma crônica da Martha Medeiros em que ela diz:

(...) Sou a Miss Imperfeita, muito prazer. Uma imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado três vezes por semana, decido o cardápio das refeições, levo os filhos no colégio e busco, almoço com eles, estudo com eles, telefono para minha mãe todas as noites, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e-mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos, participo de eventos e reuniões ligados à minha profissão e ainda faço escova toda semana – e as unhas! E, entre uma coisa e outra, leio livros... Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres. Primeiro: a dizer NÃO. Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO. Culpa por nada, aliás. Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclua na sua lista a Culpa Zero (...)”

...E por aí vai... Não acho que eu tenha problemas com esta questão da culpa, mas achei interessante o retrato que ela faz sobre a “Mulher Alpha” ou “Miss Imperfeita”, que precisa dar conta e não consegue fazer tudo direito! É isso. Vamos tentar, começando por agir mais e escrever menos, quem sabe...

domingo, 5 de dezembro de 2010

Nena, Ana, Caren, Fran... making of da Formatura do Xico...



Tal qual uma libélula


É difícil mudar, no sentido de transformar-se, redefinir-se; não necessariamente “ser melhor”, mas “aprender a ser” e estar – ao menos aparentemente – convergente com o que se espera de nós. Tenho acompanhado a tentativa da Ana ao mesmo tempo que estabeleço alguns parâmetros para minhas próprias transformações. No meu caso, tenho certeza que estas mudanças podem auxiliar naquilo que se convencionou chamar de “a busca da felicidade”, mas no caso dela, realmente, tenho dúvidas. Quanto mais Ana me questiona sobre as coisas da vida, mais perplexa eu fico com a sua lógica e sua percepção, tão elementares! Como alguém pode achar estranha tanta espontaneidade?

Quanto a mim, a dificuldade reside na incontrolável necessidade de externar tudo que se passa no meu coração e na minha mente. Habita, também, na impressão que eu tenho de que tudo “gira em torno do meu umbigo”. Sim, esta é a expressão que traduz melhor esta sensação meio esquizofrênica.

Difícil lidar com isso, mas acho que já obtive algum êxito esta semana. Refleti sobre “o meu umbigo” e tudo que ele representa, metaforicamente falando: os laços maternos, o rompimento, o medo de ficar só, sem amparo, descolada... Mais adiante, em minha meditação, tentei sair do entorno do umbigo e pensar sobre as minhas contribuições para a humanidade: uma vergonha! Então, eu estou ajudando a qualificar a saúde pública do País, com minhas pesquisas e a docência? De fato, “em casa de ferreiro, espeto de pau”: onde residem as teorias de Vicotsky, Piaget, Bordenave, Paulo Freire, etc, na ação-reflexão-ação do meu cotidiano umbilical?

Ainda não pude iniciar outras leituras que, espero, façam a base das minhas ações/transformações, mas tenho a impressão que estes "insight" já são parte do efeito mágico do conteúdo do frasco onde estava escrito: “beba-me”.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Coisas que eu preciso lembrar de nunca esquecer:


Preciso lembrar que "o meu lado mais abençoado são as asas da imaginação e da criação que Deus me deu como dom" – fala de um amigo
Que “não há nada que eu ame mais do que você” – Aninha, minha filha, mensagem para o meu celular

Preciso lembrar-me de não ficar por muito tempo na “toca do coelho” e compreender quem eu sou mais depressa, todos os dias, com as pequenas mudanças que vão se somando e aperfeiçoando o meu ser...

"(...) eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu (...) receio que não possa me explicar (...) posso explicar uma porção de coisas mas não posso explicar a mim mesma (...) se eu não sou a mesma, a próxima pergunta é: Quem é que eu sou? Ah, essa é a grande charada!" (Alice no País das Maravilhas)

Não devo esquecer que “não existem bons e maus (ou ruins) sentimentos ("tem tanto sentimento deve ter algum que sirva"!). Estes (e mais um monte de coisas) são você”! – de alguém que se parece comigo...

...que “às vezes não é exatamente como imaginamos ou queremos, mas ainda assim é bom!” – dele também

Lembrar de não planejar tanto e procurar viver mais intensamente o momento atual – essa é clássica, mas eu acho bem difícil de fazer!

... e não quero esquecer que “(...) morre lentamente quem destrói seu amor próprio, quem não se deixa ajudar. Morre lentamente quem abandona um projeto antes de iniciá-lo, nunca pergunta sobre um assunto que desconhece e nem responde quando lhe perguntam sobre algo que sabe(...)” – de Pablo Neruda – e eu acho que é isso mesmo!!

...que "tomorrow is another day" – by Scarrlet O`Hara

Coisas que eu preciso esquecer de lembrar a toda hora:

O relógio, ao menos uma vez! – esqueci/perdi o celular e tudo ficou bem no final

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Carece de ter coragem


O bacana é que a grande maioria das coisas que a gente pensa já foram refletidas ou ditas antes. Isso nos permite três possibilidades: pensar o que os outros já pensaram, novamente; não pensar – queria poder optar por esta –; ou pensar coisas inéditas. Neste caso, irei optar por fazer uma reflexão sobre as idéias de Riobaldo, personagem de João Guimarães Rosa, em Grande Sertão Veredas que, apesar da sua simplicidade, teve um dos pensamentos mais sábios que eu já conheci: “Carece de ter coragem, muita coragem...”, dizia ele e complementava com suas impressões sobre o mundo e as pessoas que dele fazem parte: “Tanta gente – dá susto de saber – e nenhum se sossega: todos nascendo, crescendo, se casando, querendo colocação de emprego, comida, saúde, riqueza, ser importante, querendo chuva e negócios bons. De sorte que carece de se escolher: ou a gente se tece de viver no safado comum , ou cuida só de religião só... todo mundo é louco. O senhor, eu, nós, as pessoas todas. Por isso é que se carece principalmente de religião: pra se desindoidecer, desdoidar...”

Também “careço desdoidar”. Também quero tudo isso... e mais! Eu quero “comida, diversão, balé...”, quero deitar na rede e olhar pro mar, quero fazer amor, quero casa e quero férias! Quero ganhar dinheiro trabalhando naquilo que eu gosto, quero família, quero comer sem culpa e quero viajar! Todos nós queremos, logo, estamos doidos? Não estou convicta de que a religião me fará exitosa nesta tentativa de “desdoidar”, posto que não dá margem a dúvidas, mas pode ser um bom começo, quem sabe... Talvez eu tenha mais sucesso se me enveredar para os lados da filosofia. Ambas, filosofia e religião tratam das mesmas questões, dando explicações diferentes em busca de alguma verdade. Avesso a religião, acho que Nietzsche foi muito radical ao proclamar que “Deus está morto”. Sou simpática às possibilidades de mudanças constantes de idéias, de percepções e de quereres... Como diria o filósofo “só sei que nada sei!”

Preciso compartilhar esta minha condição “endoidecida” pra buscar coragem em decisões que são inevitáveis, envolvem riscos e por isso “carece de ter coragem” para tomá-las... Sabe o que mais? Eis aí a graça de viver! A verdadeira existência de Deus está na perspectiva de saber que podemos optar, decidir, mudar de idéia,voltar atrás, fazer o óbvio ou o inusitado, não querer mais e surtar de vez em quando... livre arbitro! E se nem sempre for a decisão correta – ou a que os outros julgam ser o mais normal – o importante é ter arriscado e saber que haverá outras decisões a serem tomadas, sempre, e que, a partir dos erros, acertos, loucuras e devaneios, vamos nos tornando pessoas cada vez melhores e vamos criando possibilidades para que os que vierem depois de nós concertem o que ficou torto!

Foto: vista da casa da mãe para o RS, do outro lado do Rio Uruguai

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Eu apenas queria que você soubesse...


"Eu apenas queria dizer a todo mundo que me gosta

Que hoje eu me gosto muito mais

Porque me entendo muito mais também...

E que a atitude de recomeçar é todo dia toda hora

É se respeitar na sua força e fé

E se olhar bem no fundo até o dedão do pé...

Eu apenas queria que você soubesse

Que aquela alegria ainda está comigo

E que a minha ternura não ficou na estrada

Não ficou no tempo presa na poeira..."


Gonzaguinha


sexta-feira, 8 de outubro de 2010

De perto ninguém é normal...


Andei ausente...
De saúde vou bem, estive assassinando dias intermináveis, nesta fase difícil.
Se houvesse uma maneira de dar um salto e chegar bem lá na frente, onde tudo volta ao normal (inclusive eu), teria feito... Todavia, foi melhor tirar proveito de todos os momentos, mesmo que não estivessem entre os melhores, só assim, quando passa, por algum tempo são perfeitos todos os detalhes de um dia comum! Costuma acontecer assim comigo...
Levanto muito cedo. Espreguiço. Bocejo. Hora de recomeçar. Levanto. Espreguiço. Bocejo... Volto pra casa. Minha filha faz uma piada sobre a situação que parecia trágica. Acho graça, porque qualquer coisa diferente disso, naquele momento, perde o sentido. Espreguiço. Bocejo. Levanto. Nem percebo que inverti a ordem. Aos poucos vão acontecendo coisas que me divertem, me aborrecem, divertem outra vez. Toda tristeza vai perdendo o sentido.
Não me arrependo de quase nada. No final das contas, sempre é bom, dependendo da ótica...
Saio da crise. Alguém me lembra Caetano, que “de perto ninguém é normal...”, então, estou pronta: lá vou eu de novo...

Foto: Moça à janela - Salvador Dali

domingo, 19 de setembro de 2010

Et Dieu... créa la femme



Como não ficar pensando sobre a inspiração de Deus quando criou um ser como a mulher... Se Ele levou 7 dias pra criar o mundo, deve ter ficado outros 700 imaginando cada detalhe que iria incluir na sua criação humana e, depois de errar, apagar e começar tudo outra vez, concluiu a obra final, que resultou em tanta complexidade!!

Me sinto a perfeita vítima deste conjunto de detalhes que fazem de mim alguém tão plena em alguns momentos e tão imperfeita em outros...

Às vezes maravilhada com a possibilidade de gerar um filho, de ficar tão realizada quando compro um sapato de salto, mesmo sem precisar, só porque ficou bacana, e só eu percebo que ele é muito diferente dos outros que tenho em casa... Maravilhada ao ver como eu sou capaz de suspirar quando alguém diz que me quer bem, de ver que algumas coisas só ficam perfeitas quando recebem o meu “toque final”, de saber que o meu sorriso ou o meu afeto, tantas vezes, parecem encantar alguém, com a minha capacidade de amar...

Outras vezes, terrivelmente injustiçada com a minha fragilidade diante de uma palavra mais dura, com a possibilidade de um vestido que fica tão bem pra outras mulheres me deixar gorda ou baixa demais, com o efeito devastador que uma TPM tem sobre mim, com a vulnerabilidade de tudo que eu considero mais importante (e a minha falta de governabilidade sobre isso), com o pouco caso que fizeram do meu amor...

Fiquei refletindo, satisfeita por saber que eu tenho tanta força pra seguir em frente, mas com medo de saber por quanto tempo mais e quanta coisa ainda virá por ai, claro, se eu tiver tanto tempo assim... Posso afirmar, com certeza, que ganhei mais do que perdi, mas por que será que as perdas deixam sinais tão profundos? E o pior é ter que se olhar no espelho e concluir que, a cada perda ou a cada ganho, somam-se algumas marcas de expressão, de sorrir ou de chorar...

Estive sensibilizada pela história de uma jovem mulher, há poucos dias... me identifiquei com cada detalhe, tendo passado por coisas semelhantes em diferentes etapas da vida: o enfrentamento de uma doença, a possibilidade de ter que deixar um filho, uma história de amor que chegou ao fim. Bom que ela não sofreu, porque deixou este mundo antes de perceber tudo isso... Um sorriso encantador que vai deixar saudades... Espero que, onde quer que ela esteja agora, perceba que saiu de cena no momento exato, porque teve tudo que uma mulher precisa para ser, plenamente, feliz: era a melhor no seu trabalho, querida entre os que conviviam com ela, foi a mãe mais perfeita e viveu um grande e correspondido amor.

Se eu pudesse reinventar a mulher, faria um ser mais decifrável, que se fizesse compreender pela sua pura existência, mesmo sabendo que, para conseguir tal efeito, teria que tirar da sua fórmula uma pitada de vaidade, uma boa quantidade de sensibilidade, alguns quilos de romantismo e acrescentar, sem medo de exagerar na dose, aquilo que torna possível não amar tanto...

Pensando bem, acho que eu iria estragar a criação divina, melhor deixar tudo como está e pensar que Ele um dia levantou cheio de inspiração e, sem muito pensar nas conseqüências, juntou tantas coisas preciosas... e criou a mulher!

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Ensaiando alguns diálogos


No livro de Elizabeth Gilbert, “Comer, Rezar e Amar”, há certa altura a autora estabelece um diálogo muito interessante com a depressão e a solidão: “Como vocês me encontraram aqui? Quem disse a vocês que eu tinha vindo pra Roma?”. De fato, sentimentos nos encontram nos lugares e momentos mais inusitados. Neste exato momento, por exemplo, aqui me encontro, num domingo de nverno, em meio a alguns dias de férias, sem minha filha por perto (está passeando na casa do pai), podendo me dar ao luxo de não fazer, absolutamente, nada e, no entanto, uma sensação inevitável de que deveria estar produzindo alguma coisa, sei lá, arrumando um armário, estudando... Será um transtorno obsessivo ou sintomas típicos de uma workaholic? Nem uma coisa nem outra: manias todos nós temos (e as minhas não chegam a ser TOC) e também não acho que eu seja uma workaholic... ainda! Dolce fare niente... deve ser só uma fase meio “pilhada” ou demasiado apego a rotina... - God! Preciso sair dessa! - digo eu para mim mesma!


Depois de algum tempo ausente, não voltei com tanta inspiração... Estou pensando, seriamente, em estabelecer um diálogo muito sério com minha inquietude e minha preguiça e solicitar que ambas dêem uma chance à criatividade!


Parei de escrever. Retornei duas semanas depois. Deletei uma parte, nada a ver... Pensei em começar tudo outra vez, escrever sobre outra coisa, sei lá... Minha filha voltou, ela cresceu em uma semana, está mais alta, mais bonita, mais madura... Voltei ao trabalho, não tive mais tempo de escrever no blog (não organizei meu tempo). Organizei eventos, preparei aulas, revi amigos, colegas e alunos. Tive TPM. Saí da TPM. Fui ao cinema com minha filha, ao teatro com meu marido e a uma festa junina com ambos. Pensei em escrever sobre família, pois passei por uma crise familiar... Briguei, fiz as pazes, ri, chorei... ri mais do que chorei. Dormi. Acordei. Dormi outra vez. Concluí (mais uma vez) que tudo passa, inclusive o tempo... e muito depressa!


Em meio a tudo isto, os meus sentimentos estabeleceram diversos diálogos com minhas qualidades e com os meus defeitos: não chegaram a nenhuma conclusão definitiva, mas acho que muita coisa mudou pra melhor!


Foto: minha filha ensaiando diálogos com meu irmão...

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Relato de mais uma estação


Já aconteceu com você de associar uma época do ano, o clima, o cheiro... à um acontecimento? Comigo é assim, e acontece especialmente nesta época de início de outono. O estranho é que, apesar de serem lembranças tão tristes, esta é a minha estação do ano preferida! Eu amo o outono... adoro o clima, a paisagem, as datas comemorativas desta época, tudo!


Se eu pudesse reinventar o mundo eu faria uma só estação no ano, sabe qual?


Teria mencionado outras coisas hoje, já que faz tempo que não escrevo... mas, entre o final de uma estação e o início da outra, aconteceram tantas coisas importantes comigo que vale mais apena falar do sol, que continua nascendo, das folhas das árvores, que começaram a cair mais uma vez, do frio, que está chegando de mansinho, das chuvas, que trouxeram tantas vidas e levaram outras tantas...


Não, eu não estou sendo irônica quanto aos acontecimentos inóspitos da minha vida, ao contrário, é isso mesmo, coisas importantes aconteceram no meu mundo, coisas boas e outras nem tanto. Então, vai ser assim: vamos falar sobre coisas mais importantes do que isso?


Não está sendo fácil estar atenta a TV, rádio ou internet, ultimamente... parece que todo o resto perdeu o sentido diante das últimas catástrofes. Então, eu fiquei aqui pensando no que eu tenho pra fazer amanhã e, sério mesmo, me deu uma vontade imensa de deixar pra lá e curtir o outono só mais desta vez!

Foto: eu, no início do outono de 2010...

domingo, 28 de fevereiro de 2010

A Costureirinha Gaúcha

Durante a Revolução Cultural na China, liderada por Mao Tse Tung, no final dos anos 70, as universidades foram fechadas e a maioria dos livros proibidos. Jovens considerados intelectuais burgueses eram enviados para um campo de “reeducação”, para seguir os ensinamentos dos camponeses, considerados verdadeiros revolucionários. É nesse contexto que desenvolve-se a história: “Balzac e a costureirinha chinesa”, de Daí Sijie. Numa montanha maoísta no Tibet, dois adolescentes, Luo e Ma conhecem uma singela e ignorante costureirinha, filha do alfaiate local. O objetivo de ambos se torna, então, "civilizá-la". Luo decide ensiná-la a ler e a transformação que ocorre na menina, ao conhecer o maravilhoso mundo da literatura, é tamanha que se torna impossível para ela continuar vivendo naquele lugar.

Ainda não terminei de ler o livro, entretanto, fez refletir sobre as transformações que acontecem em nossas vidas, a partir de uma descoberta, por mais pueril que ela seja. Lembrei-me, imediatamente, da história de uma criança, uma menina que há pouco tempo veio viver perto de nós. Procede de uma cidade pequena do Rio Grande do Sul, de uma família carente e, aos 12 anos, pouca coisa conhece do mundo, dentre estas e magistralmente, desenvolveu habilidade notória de “jogar bola”, prática que em nossa região e também no Brasil de modo geral, acaba sendo o lazer mais popular das crianças da periferia e do interior.

Ocorre que a pequenina foi observada em seus inegáveis talentos e ao ser apresentada ao “novo mundo” impressionou-se com as coisas mais bucólicas, coisas estas que, daqui em diante lhe serão imprescindíveis. Ora essa, é assim que é; e nem poderia ser diferente... Há coisas que jamais teriam importância, não fosse a necessidade que inventamos delas. Da mesma forma, há coisas que são tão importantes, que só as damos valor quando as perdemos. Lembro uma frase da Frida Kahlo, quando tiveram que lhe amputar os pés: “Pies, para que los quiero, si tengo alas para volar?” E como ela tinha, e como voava! Feliz daqueles que consguem ir tão longe com os talentos que possuem, apesar de todas as limitações!

A nossa pobre “costureirinha” não descobriu nada nos livros e nas histórias, mesmo assim, agora que ela conhece tantas coisas novas, não mais poderá viver sem elas. Enfim, esta história está apenas no começo, em breve a “Costureirinha Gaúcha” (resolvi chamá-la assim) despontará para o mundo, como já aconteceu com tantas outras! Que seja repleto de alegrias o seu desabrochar, menina!

Entrou por uma porta, saiu pela outra... e quem quiser, que conte outra!!

Foto: Pies, para que los quiero, si tengo alas para volar? (Frida Kahlo)



domingo, 31 de janeiro de 2010

Algumas razões para existir


Nesta primeira postagem de 2010, gostaria de lembrar algumas coisas que, para mim, são razões suficientes para continuar existindo.
Me ocorreu esta idéia após algumas tragédias que vivenciamos, ultimamente, no planeta e também porque algumas pessoas andam exalando desmotivação, então, pensei que este texto pode ajudar a "ligar o desconfiômetro"e fazer as pessoas lembrarem de algumas coisas simples, mas que fazem a diferença.


Além disso, sou uma eterna apaixonada das artes e, embora não uma exímia conhecedora, tenho suficiente sensibilidade para me encantar com aquelas que, por unanimidade, são percebidas como as mais belas.

Por isso alguns itens da minha lista são pura arte e outros são tão óbvios. Porém, achei importante mencionar as coisas que já vi ou vivi e que me ocorrem, assim, de imediato... não custa lembrar!

Então, lá vai... e, no final, deixo em aberto para meus amigos acrescentarem suas considerações para enriquecer a lista (em comentários).

1 – Crianças
2 – Cachorros
3 – Avós
4 – Nona Sinfonia de Beethoven
5 – O Trenzinho Caipira, de Heitor Villa Lobos
6 – What a Wonderful World, de Louis Armstrong

7 – Madame Bovary, de Gustave Flauber
8 – Dom Casmurro, de Machado de Assis

9 – Algarve, Portugal
10 – Serra Gaúcha,RS
11 – A casa da gente, com a família da gente
12 – A sensação da barriga crescendo, com um bebe
13 – Banho de chuva, no verão
14 – Dormir na rede
15 – Abraço de mãe numa hora triste
16 – Ser campeão (ou se sentir parte do time campeão, hehehe)
17 – Tirar nota 10 na escola
18 – Comer bolinhos de chuva (com chuva)
19 – Os primeiros passinhos
20 – Por do sol
21 – Capela Sistina
22 – Coliseu
23 – As telas do Monet
24 – Vinho tinto
25 – Se apaixonar
26 – ...

27 – ...

Fazendo a lista, percebi que têm muitos lugares que não vi, sensações que não senti, livros que não li... coisas que não conheci e que dizem que valem muito a pena. Tentei colocar algumas das minhas preferidas e, mais do que nunca, me deu vontade de viver muito, pra ter tempo de conhecer Barcelona, voltar ao Canadá (desta vez, com o Eder e no outono), conhecer meus netos, andar de Asa Delta, fazer um curso de fotografia, aprender a falar italiano, voltar a rir com meu pai, tomar só mais um sorvete em Florença...


A vida não é uma obra de arte assim como a música de Beethoven, que podemos ouvir sempre que desejarmos. Os momentos não duram para sempre, então, eles precisam ser vividos, aproveitados e imortalizados na nossa lembrança...

Um dia quero fazer uma lista com todos os meus momentos preferidos, para não esquecer de lembrar!Um 2010 cheio de “boas razões” para todos nós!

Foto: A Criação de Adão (Michelângelo)