sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Natal e a esperança de um ano bom






Deixando de lado o verdadeiro significado do Natal e aqueles momentos que, inevitavelmente, paramos pra analisar todas as coisas que fizemos e, por fim, nos propomos a iniciar com o pé direito o próximo ano, quero contar por quê já não gosto tanto desta época do ano. O primeiro motivo é simples: não gosto da estação do ano, no Natal. Acho que o "Natal do Bom Velhinho" é perfeito quando há neve, lareira e toda aquela parafernália americana, vamos ser sinceros... Além disso, eu prefiro o inverno – e me refiro ao inverno do sul do Brasil – inclusive para tirar férias, porque posso fazer, nesta estação, todas as coisas que realmente, importam: dormir, comer, beber vinho tinto, ler embaixo das cobertas e namorar – de preferência embaixo das cobertas, também. Como sou uma exceção à regra, prefiro, inclusive, tirar férias no inverno, mas como também quero ser normal, costumo tirar só 15 dias. O que ocorre é que, no verão, quando não estou de férias, não consigo trabalhar como gostaria porque não encontro as pessoas e lugares que preciso, “funcionando” como deveriam. Ninguém funciona muito bem no verão do Brasil, mesmo no sul, onde não faz tanto calor; é uma questão genética, eu acho. Outro motivo que tem contribuído para deixar o Natal sem graça, em minha opinião, é porque não ganho mais bonecas de presente do Papai Noel e nem encontro com meus primos na casa da minha avó e, pelo que me lembro dos meus doze primeiros natais, isso resumia toda a magia.

Acho que foi por isso que o último registro que pretendia postar no meu blog em 2010 iniciou tão melancólico, em tempo, suprimi a idéia. Enquanto escrevia, lembrei de um texto que está no início do livro "Pássaros Feridos" de Colleen Mccullough e, não sei por que, achei que resumiria bem o meu ano:

"Existe uma lenda acerca de um pássaro que só canta uma vez na vida, com mais suavidade que qualquer outra criatura sobre a terra. A partir do momento em que deixa o ninho, começa a procurar um espinheiro-alvar e só descansa quando o encontra. Depois, cantando entre os galhos selvagens, empala-se no acúleo mais agudo e mais comprido. E, morrendo, sublima a própria agonia e despede um canto mais belo que o da cotovia e o do rouxinol. Um canto superlativo, cujo preço é a existência. Mas o mundo inteiro pára para ouvi-lo, e Deus sorri no céu. Pois o melhor só se adquire à custa de um grande sofrimento”

Antes de postar, compartilhei minha idéia com um amigo e levei um “puxão de orelhas”. Ele me disse que não havia muito sentido no meu texto, porque meu ano não foi uma rosa cinzenta e não devo “resumir tudo a uma sensação de vazio, mas sim, valorizar a possibilidade de poder desfrutar novamente do sol”, mais ou menos com estas palavras.

De fato, teria sido uma bela, porém triste reflexão para encerrar um ano. É verdade que toda a descoberta implica em algum sofrimento, antes da libertação e da mudança. Assim é o nascimento de uma criança, a saída de uma borboleta do casulo. O que nos torna diferentes do “pássaro ferido” do texto é: no decorrer de um ano ou de uma década inteira, com quantos espinheiros nos deparamos e quantos cantos entoamos, belos ou não, superlativos ou não, cantos que contam histórias nossas, e somente nossas?!

Quero dizer que valeu a pena. Valeu pelas sensações experimentadas, pelas descobertas, porque, de certa forma, os fins justificam os meios. Valeu pela lembrança de que o instinto de sobrevivência e proteção ainda é soberano e pulsa mais forte a vontade de viver. Viver para ver os filhos crescerem, viver para correr atrás dos sonhos, viver por alguma coisa maior que tudo isso e que só é revelada a custa da experiência de viver dia após dia. E, no final das contas, entender que o que nos liberta e revela o verdadeiro sentido da existência humana é o afeto mais profundo, o amor pelo outro e por todas as coisas que nos cercam, e o conhecimento, alimento imprescindível do ser.

Por tudo isso, meu canto será melhor em 2011 e desejo que assim seja para todos nós!

Fotos: estações do ano, em 2010: eu e Fran (irmão), eu e Ana (meu passarinho)

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Os caminhos de Alice


Foi o Chapeleiro Maluco quem perguntou à Alice:

- Você já sabe por qual caminho deve seguir?

O Chapeleiro, que tinha o estranho hábito de recomeçar o “chá das cinco” a todo o momento, porque brigou com o tempo. Aí o tempo resolveu parar e o relógio não andava mais até que ele conheceu Alice. Alice gostava de tomar chá com o chapeleiro. Ela não compreendia, às vezes, onde ele queria chegar com seus enigmas, mas no final, sempre havia uma lógica perfeita na sua “maluquice” e ela percebia que conseguiria desvendar, porque ele os fazia pra ela e com base nas suas histórias tristes e confusas. O chapeleiro amava as histórias de Alice e passou a fazer parte delas, como um personagem fundamental.

Então, os caminhos que ela seguiu, em sua companhia, passaram por velhas mulheres, donas de poções mágicas, passaram por artistas e poetas loucos, passaram por músicos cujas canções acalentavam e acalmavam toda a energia misteriosa que ela trazia consigo, como se desvendassem sentimentos que traduzissem o que se passava com ela. Os caminhos levavam à outros tempos e lembranças, bem distantes, passavam por florestas, constelações e por revelações que a deixavam maravilhada e, algumas vezes, confusa. Algumas amedrontavam, mas vinham acompanhadas de estratégias de compreensão ou sublimação que a faziam sentir mais poderosa, dona dos seus sentimentos e emoções, outrora desencontrados e descontrolados.

À certa altura do caminho, ele apresentou à ela personagens interessantes, sábios pensadores, filósofos, médicos, magos ou santos, que mudarão pra sempre a sua vida. Ele revelou que alguns deles podem andar sempre em sua companhia e que o que ela procura está com ela, guardado bem lá no fundo, basta procurar com calma e compreender o sentido de encontrar este tesouro.

Contudo, ela ainda está insegura para seguir sozinha, precisa e deseja estar de mãos dadas com ele, porque tem muitas perguntas. Alice sabe que não será assim pra sempre, mas também sabe que o Chapeleiro sente-se bem com ela. Talvez os dois, inconscientemente, tenham optado por seguir o caminho juntos por algum tempo, ou até que ele faça as pazes com o tempo e também possa seguir sem ela.

Ao “Chapeleiro Maluco”, com carinho...

Alice.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010


Quem não gosta dele??
Sim, na minha opinião a voz é terrível, tediosa... Mesmo assim, vamos combinar: alguma música dele fica tão maravilhosa com outro interprete? Não.
Mesmo as poesias que retratam dramas e desamores de mulheres; mesmo estas só têm alma quando são contadas/cantadas na tua voz, Chico!
Então, segue um pouco da alma feminina de um homem com H e adoráveis olhos cor de ardósia...
... E as vezes ele consegue ser cruel como poucas mulheres!!!

Olhos nos olhos
Chico Buarque

Quando você me deixou, meu bem,
Me disse pra ser feliz e passar bem.
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci,
Mas depois, como era de costume, obedeci.
Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer.
Olhos nos olhos,
Quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais
E que venho até remoçando,
Me pego cantando, sem mais, nem por quê.
Tantas águas rolaram,
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você.
Quando talvez precisar de mim,
Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim.
Olhos nos olhos,
Quero ver o que você diz.
Quero ver como suporta me ver tão feliz.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Sobre desafios e ousadia...


Gostaria de compartilhar com o mundo minha alegria!
Não se trata de masoquismo quando se ama o que faz, então... lá vou eu, rumo à batalha de 4 anos que será o Doutorado em Enfermagem da UFSC!
Deixarei de lado, momentaneamente, coisas importantes, mas jamáis esquecidas, certamente!Peço licença, mas devo ir, ainda assim! Meu lar neste tempo será dividido entre o litoral tão belo, que abandonei há um tempo atrás, e o oeste de Santa Catarina, onde aprendi tantas coisas nestes últimos 4 anos em que aqui resido - e onde farei a minha pesquisa, se assim Deus quiser!!
Agradeço aos amigos, familiares e colegas que acreditaram no meu potencial!
Deixo uma frase de Charles Chaplin, enviada por um destes amigos e que cabe, exatamente, agora...

"Bom mesmo é ir a luta com determinação, abraçar a vida com paixão, perder com classe e vencer com ousadia. Pois o triunfo pertence a quem se atreve... A vida é "muito" para ser insignificante". (Charles Chaplin)

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Anime-se e inspire-se: 2011 chegou!!

Clarice Pinkola Estés é o meu “tema de casa” para as férias. Comecei antes mesmo de terminarem as aulas e já encontrei bons conselhos para seguir em 2011:
“...ser sábia e ao mesmo tempo estar sempre à procura de novos conhecimentos; ser cheia de espontaneidade e confiável; ser loucamente criativa e obstinada; ser ousada e precavida; abrigar o tradicional e ser verdadeiramente original...” (Estés,2007: A ciranda das mulheres sábias).

Não parece difícil e ela sugere que um bom começo pode ser utilizar as quedas, hesitações, o tempo perdido e tudo o que foi “out” como combustível pra avançar pelo caminho certo. Ok, vamos lá...

1 – Eu não gosto de malhar e comer frutas e preciso melhorar meus hábitos para ser saudável (ao menos no campo: hábitos e estilos de vida saudáveis da Carta de Ottawa para a Promoção da Saúde). Meta: vou caminhar duas vezes por semana e comer uma fruta por dia – pouco original, mas, relativamente, clássico;

2 – Vou deixar alguma coisa pra fazer amanhã, todos os dias – menos obstinada e precavida e, verdadeiramente, original!!! (não ria, isso é muito complicado pra mim);

3 – Terceira meta importante: cultivar melhor as amizades - completamente sábio!

Ok, sou uma “mulher alpha”, é isso? Então, acrescentaria aos sábios conselhos de Estés: ser forte e ao mesmo tempo frágil; sagaz e ingênua; sincera e nebulosa... é tudo uma questão de perceber o momento certo e como se apresentar. Outra alternativa poderia ser resumida em uma só palavra: “sublimar” – algo que preciso exercitar a partir da sábia opção de “ficar calada” e “só falar quando for necessário” – até parece fácil, se tirar por base tudo que eu escrevo, imagine a minha dificuldade pra fazer isso...

Tem uma crônica da Martha Medeiros em que ela diz:

(...) Sou a Miss Imperfeita, muito prazer. Uma imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado três vezes por semana, decido o cardápio das refeições, levo os filhos no colégio e busco, almoço com eles, estudo com eles, telefono para minha mãe todas as noites, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e-mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos, participo de eventos e reuniões ligados à minha profissão e ainda faço escova toda semana – e as unhas! E, entre uma coisa e outra, leio livros... Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres. Primeiro: a dizer NÃO. Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO. Culpa por nada, aliás. Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclua na sua lista a Culpa Zero (...)”

...E por aí vai... Não acho que eu tenha problemas com esta questão da culpa, mas achei interessante o retrato que ela faz sobre a “Mulher Alpha” ou “Miss Imperfeita”, que precisa dar conta e não consegue fazer tudo direito! É isso. Vamos tentar, começando por agir mais e escrever menos, quem sabe...

domingo, 5 de dezembro de 2010

Nena, Ana, Caren, Fran... making of da Formatura do Xico...



Tal qual uma libélula


É difícil mudar, no sentido de transformar-se, redefinir-se; não necessariamente “ser melhor”, mas “aprender a ser” e estar – ao menos aparentemente – convergente com o que se espera de nós. Tenho acompanhado a tentativa da Ana ao mesmo tempo que estabeleço alguns parâmetros para minhas próprias transformações. No meu caso, tenho certeza que estas mudanças podem auxiliar naquilo que se convencionou chamar de “a busca da felicidade”, mas no caso dela, realmente, tenho dúvidas. Quanto mais Ana me questiona sobre as coisas da vida, mais perplexa eu fico com a sua lógica e sua percepção, tão elementares! Como alguém pode achar estranha tanta espontaneidade?

Quanto a mim, a dificuldade reside na incontrolável necessidade de externar tudo que se passa no meu coração e na minha mente. Habita, também, na impressão que eu tenho de que tudo “gira em torno do meu umbigo”. Sim, esta é a expressão que traduz melhor esta sensação meio esquizofrênica.

Difícil lidar com isso, mas acho que já obtive algum êxito esta semana. Refleti sobre “o meu umbigo” e tudo que ele representa, metaforicamente falando: os laços maternos, o rompimento, o medo de ficar só, sem amparo, descolada... Mais adiante, em minha meditação, tentei sair do entorno do umbigo e pensar sobre as minhas contribuições para a humanidade: uma vergonha! Então, eu estou ajudando a qualificar a saúde pública do País, com minhas pesquisas e a docência? De fato, “em casa de ferreiro, espeto de pau”: onde residem as teorias de Vicotsky, Piaget, Bordenave, Paulo Freire, etc, na ação-reflexão-ação do meu cotidiano umbilical?

Ainda não pude iniciar outras leituras que, espero, façam a base das minhas ações/transformações, mas tenho a impressão que estes "insight" já são parte do efeito mágico do conteúdo do frasco onde estava escrito: “beba-me”.