segunda-feira, 31 de dezembro de 2012


No último dia de 2012, gostaria de "compartilhar" com meus amigos as alegrias, os sonhos e tudo de bom que eu conquistei neste ano!! Contudo, as melhores coisas de 2012 eu vou revelear:
Primeiro, foram as grandes conquistas da Ana Cecília, que são para mim, a maior alegria, maior ainda do que para ela mesma! (algumas delas são segredo!!kkk);
Segundo, a qualificação do projeto de Tese e tudo que vem com isso: as contribuições que posso dar no meu trabalho, que eu amo, as pessoas maravilhosas com as quais convivi (beijo Letícia Trindade, Margarete Lima, Juliana Homem da Luz, Kenya Schmidt Reibnitz, Jucimar Frigo, Silvana Zanotelli... lista infinita!!), a descoberta de "novos mundos", que vem com o crescimento intelectual e pessoal, meu bem mais valioso;
Terceiro, mas não menos importante, foi perceber mais um pouco daquilo que importa na vida (e que ela nos revela aos pouquinhos), que são as pessoas que valem a pena! Esse ano quero agradecer e beijar meu companheiro, amigo e eterno namorado, Eder Popiolski, ser humano de grande coração, enorme senso de humor, com quem eu divido tantas coisas no dia a dia e que me completa em tantas outras!!
No mais, dizer que "navegar é preciso; viver não é preciso", como refletiu Fernando Pessoa, e ai eu me atrevo a completar com algo que venho pensando: nessa falta de precisão que a vida nos oferece, o mais importante talvez seja aproveitar-se das coisas inesperadas que estão a deriva!!
Feliz 2013!!

Foto: momento mágico 2012 - 100 anos da nona Ida, nossa "queridona" (como ela fala) e exemplo maior!

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Caminante no hay camino



Antonio Machado

Todo pasa y todo queda,
pero lo nuestro es pasar,
pasar haciendo caminos,
caminos sobre el mar.

Nunca persequí la gloria,
ni dejar en la memoria
de los hombres mi canción;
yo amo los mundos sutiles,
ingrávidos y gentiles,
como pompas de jabón.

Me gusta verlos pintarse
de sol y grana, volar
bajo el cielo azul, temblar
súbitamente y quebrarse...

Nunca perseguí la gloria.

Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.

Al andar se hace camino
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.

Caminante no hay camino
sino estelas en la mar...

Hace algún tiempo en ese lugar
donde hoy los bosques se visten de espinos
se oyó la voz de un poeta gritar
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso...

Murió el poeta lejos del hogar.
Le cubre el polvo de un país vecino.
Al alejarse le vieron llorar.
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso...

Cuando el jilguero no puede cantar.
Cuando el poeta es un peregrino,
cuando de nada nos sirve rezar.
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Kiki eu tenho a ver com isso?



Contam que antigamente, perderam-se na mata, durante uma guerra, dois índios, um Kame e um Kanhru, ambos da tribo Kaingáng. Um deles foi morto e o outro, ficando sozinho, criou um ritual para jamais esquecer do seu grande amigo ausente. Assim originou-se a festa do kiki ou ritual dos mortos da tribo kaingáng.

Hoje, no dia da mulher, eu visitei uma mulher kaingáng, na sua casa, em uma Aldeia Indígena não muito longe do lugar onde eu moro, o município de Chapecó. A cultura desta tribo desenvolveu-se à sombra das araucárias e são famosos os grafismos kaingáng que aparecem nas pinturas rupestres e na cerâmica arqueológica. No ritual do Kikikoi, os rezadores se reunem em três fogos acesos, em dias diferentes, no local conhecido como “praça da dança” ou “praça dos fogos”. Dessa maneira, eles invocam espíritos dos mortos e se embriagam para fazer contato com os espítitos...

Dona Camélia (nome fictício) me contou sobre o ritual e sobre todas as coisas da sua gente. Ela é viúva e conheci sua casa simples, onde o que mais se destaca é o enorme aparelho de som; seus "curumins" e a sua rica cultura, que tem se perdido, em meio à essa mistura com a gente branca.

Então, refleti sobre essa índia, essa guerreira, essa mulher... Observei as grandes diferenças entre ela e eu, mas também as enormes semelhanças entre nós duas. Pensei nos séculos de iniqüidade, evidentes naquele contexto em que nos encontrávamos, e que a minha gente teve muito a ver com isso. Pensei no preconceito que hoje impera entre eles e nós, falta de conhecimento sobre as origens de um povo que aprendeu a extrair, na medida da sua necessidade, o que a terra oferece para viver, dia após dia... E pensei sobre o que eu posso fazer por ela... Convidou-me a participar do seu ritual Kikikoi, para homenagear seu companheiro ausente e participar do seu mundo.

Achei que deveria registrar este solene momento, tão único em minha vida. Pequenos detalhes de uma cultura que está se perdendo, em meio à este nosso país tão magestoso! ...E, por algum motivo, eu fui chamada a fazer parte disso, hoje, no dia da mulher...

A foto: em meio à Aldeia, araucárias e o Rio Uruguai - Projeto de Extensão UDESC/CEO/Enfermagem 2012

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Ditados populares na versão acadêmica

1. Amigos, amigos, bolsas à parte.
2. É melhor um artigo publicado do que dois no prelo.
3. Antes só do que mal orientado.
4. A pressa é inimiga da pesquisa-ação.
5. A recurso aprovado não se olha a fonte.
6. Diga-me qual teu grupo de pesquisa e te direi quem és.
7. Para bom pesquisador meia referência basta.
8. Não adianta chorar sobre o edital vencido.
9. Em terra de mestres quem tem doutorado é rei.
10. As capas das teses enganam.
11. A ocasião faz a comissão.
12. O laboratório do vizinho é sempre melhor equipado.
13. O protocolo é o pai de todos os vícios.
14. Antes tarde do que perder o edital.
15. As más noticias chegam via protocolo.
16. Azar na CNPq, sorte na FAPERGS.
17. Projeto fraco em editais duros tanto se envia até que é aprovado.
18. Artigos passados não movem o Lattes.

domingo, 22 de janeiro de 2012

O Direito ao Delírio



Eduardo Galeano

"Mesmo que não possamos adivinhar o tempo que virá, temos ao menos o direito de imaginar o que queremos que seja.
As Nações Unidas tem proclamado extensas listas de Direitos Humanos, mas a imensa maioria da humanidade não tem mais que os direitos de: ver, ouvir, calar.
Que tal começarmos a exercer o jamais proclamado direito de sonhar?
Que tal se delirarmos por um momentinho?
Ao fim do milênio vamos fixar os olhos mais para lá da infâmia para adivinhar outro mundo possível.
O ar vai estar limpo de todo veneno que não venha dos medos humanos e das paixões humanas.
As pessoas não serão dirigidas pelo automóvel, nem serão programadas pelo computador, nem serão compradas pelo supermercado, nem serão assistidas pela televisão.
A televisão deixará de ser o membro mais importante da família.
As pessoas trabalharão para viver em lugar de viver para trabalhar.
Se incorporará aos Códigos Penais o delito de estupidez que cometem os que vivem por ter ou ganhar ao invés de viver por viver somente, como canta o pássaro sem saber que canta e como brinca a criança sem saber que brinca.
Em nenhum país serão presos os rapazes que se neguem a cumprir serviço militar, mas sim os que queiram cumprir.
Os economistas não chamarão de nível de vida o nível de consumo, nem chamarão qualidade de vida à quantidade de coisas.
Os cozinheiros não pensarão que as lagostas gostam de ser fervidas vivas.
Os historiadores não acreditarão que os países adoram ser invadidos.
O mundo já não estará em guerra contra os pobres, mas sim contra a pobreza.
E a indústria militar não terá outro remédio senão declarar-se quebrada.
A comida não será uma mercadoria nem a comunicação um negócio, porque a comida e a comunicação são direitos humanos.
Ninguém morrerá de fome, porque ninguém morrerá de indigestão.
As crianças de rua não serão tratadas como se fossem lixo, porque não haverá crianças de rua.
As crianças ricas não serão tratadas como se fossem dinheiro, porque não haverá crianças ricas.
A educação não será um privilégio de quem possa pagá-la e a polícia não será a maldição de quem não possa comprá-la.
A justiça e a liberdade, irmãs siamesas, condenadas a viver separadas, voltarão a juntar-se, voltarão a juntar-se bem de perto, costas com costas.
Na Argentina, as loucas da Praça de Maio serão um exemplo de saúde mental, porque elas se negaram a esquecer nos tempos de amnésia obrigatória.
A perfeição seguirá sendo o privilégio tedioso dos deuses, mas neste mundo, neste mundo avacalhado e maldito, cada noite será vivida como se fosse a última e cada dia como se fosse o primeiro."

sábado, 14 de janeiro de 2012

Poema de um amigo meu...



“Pálida intensidade
Do perfil de um Buarque
A eclosão do movimento
Beleza
Firmamento
Firmeza emocional
De um discípulo radical
Procurando em palavras
Expressar a criação
Busca o Verbo
Encontra na Paixão
Então, no parque ao domingo
Ouvindo o campanário
Soube que o amor é vário
Fiz um verso de adeus
Fiz o elogio ao Deus
Fiz-me eu ao divagar
Digitar
Penso
Penso em um ser interno,
Brutalizado pelo ego
Penso na dor de não poder ser
Penso na altivez
Na embriagues
Penso precisamente na menina
Deixo para depois
Penso a dois”

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Carta para a Vó Ida



O amor incondicional, materializado na forma de uma mulher, pode existir?
E, existindo, seria este alguém eterno?
Se alguém realizasse o amor tal qual Jesus Cristo nos ensinou, como ele ou ela seria? Como se apresenta um anjo na Terra?
Eu conheço alguém assim: a materialização do mais puro amor, a quem Jesus presenteou com a graça de uma vida longa e tantos descendentes quantos ela foi capaz de acolher e amar.
Sendo mulher, ela amou demais, e sendo mãe, amou melhor.

100 anos resultaram na sabedoria que não se revela somente na soma de conhecimentos, mas também em simplicidade, dedicação e generosidade. Foi dessa maneira que ela viveu até hoje e, a julgar pelo tamanho do seu coração e pela força, apesar da aparência frágil, é inevitável achar que, de alguma maneira, será eterna.

Acredito que um dos seus segredos esteja no trabalho. Trabalho de mulher: lavar roupa no rio, cuidar dos filhos e do marido, plantar grãos e colher os frutos que, pouco a pouco ela via amadurecerem enquanto, pacientemente, os cultivava.

Seu trabalho, já ha algum tempo, é ensinar o que ela aprendeu com a vida. Faz isso com a qualidade de quem sabe ouvir e fala pouco. Basta que nos volte um olhar para vermos, diante dos nossos, um filme, em fração de segundos. Ensina através de algumas coisas que são comuns as mulheres sábias como ela, meio feiticeiras, meio fadas: o toque, o abraço acolhedor, o cheiro de lavanda da sua casa, a sopa quente sobre o fogão, as poções mágicas feitas de ervas caseiras, o emaranhado de fios que sai de sua agulha de crochê e o doce ruído da cadeira de balanço. É possível a quem consegue sensibilizar-se a qualquer desses elementos, voltar no tempo, ver e viver, num segundo, a evolução mais perfeita, que se inicia com a graça e os sonhos da juventude, cede lugar à força e ao amadurecimento da idade adulta e vai aos poucos agregando as marcas e a beleza do envelhecer.

Italina - pequena Itália: a "vó Ida", como a conhecem seus netos, bisnetos e tataranetos, traz no nome um pedacinho do lugar tão distante de onde seus pais vieram. A “Ida do Bepi” do “Bepi da Ida”, porque haviam outras Idas e outros Bepis naquele pedacinho de terra onde fincou suas raízes e começou a construir sua família. Filha de italianos, se enraizou no Brasil como uma grande árvore frondosa. Casou-se com José Vendruscolo e com ele teve 13 filhos, 9 homens e 4 mulheres, e depois muitos netos e bisnetos...

Toda árvore possui, por baixo da terra, raízes profundas que empurram a energia para cima para suportar a exuberância dos galhos, folhas e frutos. A “vó Ida” é uma mulher sábia que se ergue em pleno esplendor, com determinação para agir pelo bem de todos ao seu redor, com profundas e solidas raízes. A "nona", que conta histórias cheias de saudades dos antepassados que vieram do outro lado do oceano, um lugar que ela não conheceu, mas de onde reconhece as canções, os costumes e parte de uma outra língua, que aos meus ouvidos ecoa como um som acolhedor e confortável, como “voltar para casa”.

Dizem que ha duas maneiras de nos tornarmos imortais: através da procriação e da realização de ações heróicas e gloriosas que, sendo contadas e sendo descobertas e sendo conhecidas, permanecem eternas. De todas as historias que já ouvi sobre ela, uma ficou marcada para mim, que adoto como sugestão aos meus jovens e, por vezes, desmotivados alunos: diz a lenda que vó Ida aprendeu a fazer crochê aos 70 anos, exemplo a todos aqueles que julgam ser tarde demais para aprender qualquer coisa na vida! Quando eu era criança, minha mãe já contava esta história, orgulhosa: “...e fui eu quem ensinei a sua vó!” ela dizia, satisfeita por ter contribuído para a produção de metros e metros daquela trama de fios que ia se formando, rapidamente, enquanto a vó movia suas mãozinhas, transformando-os em uma enorme teia, que só as fêmeas são capazes de construir com tamanha eficiência e graça.

E assim, sempre que nossas esperanças estão se acabando, sempre que alguma coisa faz a vida perder o sentido, ou quando nos questionamos sobre a sua finitude e sobre o motivo de estarmos aqui, lá está ela, nossa árvore frondosa, cheia de amor e de respostas que se revelam na sua imagem, na cadeira de balanço...

Contudo, lembrar da vó Ida sem pensar na querida “tia Oneide” já não e mais possível, tantos anos depois desta parceria incondicional. A filha amiga, a tia mais querida, de tantos sobrinhos e “sobrinhos filhos” que ela tem. A irmã amorosa que cuidava dos seus irmãozinhos (mas sem desobedecê-los!), e assim ela faz ainda hoje! A talentosa bailarina, cuja sensibilidade artística é conhecida por poucos, mas há que se dizer que os artistas são almas raras e poucas vezes seu valor e reconhecido no tempo presente. A ela presto também essa homenagem, pois com ela aprendi a dançar e, como não dançava tão bem assim, ela me ensinou a expressar de outras maneiras a arte que existe em mim. Obrigada, tia querida, porque você, muitas vezes se deixa de lado para cuidar da “nossa vó”.

A “Nona Ida” teve tantos filhos quanto foi possível a uma mãe amar, depois, como ainda tinha tanto amor, teve tantos netos e bisnetos que já quase perdemos a conta, mas não ela, que se dirige a todos e a cada um pelo nome e ainda pergunta pelos seus...
Construiu assim uma grande e bela família, composta por diferentes histórias que vêm se cruzando ao longo desses anos, assim como a trama dos fios dos seus crochês e bordados.

Nós todos vivemos parte destas historias e hoje estamos aqui para deixarmos registrado talvez o momento único em que refletimos juntos sobre algumas delas e sobre a sua personagem mais importante: a Vó Ida.

Não tendo palavras para descrever todos os meus... os nossos desejos sinceros de felicidades eternas e o que há de bom... finalizo com a certeza de que tudo o que cada um de nós aprendeu com a Senhora, “Nona Ida”, “Ida do Bepi”, será eternizado por meio dos seus filhos, netos e bisnetos e das marcas que deixarem nesta “Terra Nostra”.

Com todo o meu amor,
Carine.