sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Sobre 2011...


Voltei pra casa em 2011.
Aprendi que não é legal tentar mudar as pessoas, a mudança deve acontecer na gente!
Comecei a comer sushi toda semana.
Aprendi a experimentar de novo, mesmo quando acho que já tenho uma opinião formada.
Mudei de emprego.
Aprendi que uma das melhores coisas da vida é trabalhar com o que nos dá prazer!
Fiz novos amigos.
Mais uma vez, constatei que eles são presentes que damos a nós mesmos!
Cultivei velhas amizades.
Me senti recompensada todos os dias.
Briguei.
Fiz as pazes.
Chorei.
Ri mais do que chorei.
Fiquei triste vendo as pessoas que eu amo brigarem.
Tentei reaproximá-las.
Acho que consegui.
Comi bacalhau no Porto, visitei a Biblioteca da Universidade de Coimbra, andei por jardins inesquecíveis!
Passei a acreditar em pilates, massagem, bons pensamentos e duendes.
Me rendi ao filtro solar, já não me aborrece mais ser tão branca.
Vi minha filha se transformando em mulher.
Aprendi mais uma porção de coisas com ela.
Modifiquei meu projeto de tese mais de dez vezes.
Aprendi que não posso ter pressa se eu quiser o melhor.
Estudei filosofia, pesquisa, educação, a história da minha profissão...
Entendi que eu tenho muito que estudar ainda.
Li muitos livros, escutei novas músicas, vi alguns filmes...
Conquistei muitas coisas boas.
Descobri que Deus está em todas elas.
Portanto, ele está comigo.
Estou satisfeita e feliz.
Adotei uma frase como guia, este ano:
“Se eu não sou capaz de mudar diante de novas circunstâncias,
como posso esperar que os outros mudem?”
Nelson Mandela

Para 2012?
Quero comemorar com minha avó seus 100 anos,
pedir sua benção
e o resto será consequência!

Foto: Eu e as pinhas...

sábado, 10 de dezembro de 2011

Eu, etiqueta

Carlos Drummond de Andrade

Em minha calça está grudado um nome
Que não é meu de batismo ou de cartório
Um nome... estranho
Meu blusão traz lembrete de bebida
Que jamais pus na boca, nessa vida,
Em minha camiseta, a marca de cigarro
Que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produtos
Que nunca experimentei
Mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
De alguma coisa não provada
Por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
Minha gravata e cinto e escova e pente,
Meu copo, minha xícara,
Minha toalha de banho e sabonete,
Meu isso, meu aquilo.
Desde a cabeça ao bico dos sapatos,
São mensagens,
Letras falantes,
Gritos visuais,
Ordens de uso, abuso, reincidências.
Costume, hábito, premência,
Indispensabilidade,
E fazem de mim homem-anúncio itinerante,
Escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É duro andar na moda, ainda que a moda
Seja negar minha identidade,
Trocá-lo por mil, açambarcando
Todas as marcas registradas,
Todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
Eu que antes era e me sabia
Tão diverso de outros, tão mim mesmo,
Ser pensante sentinte e solitário
Com outros seres diversos e conscientes
De sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio
Ora vulgar ora bizarro.
Em língua nacional ou em qualquer língua
(Qualquer, principalmente.)
E nisto me comprazo, tiro glória
De minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
Para anunciar, para vender
Em bares festas praias pérgulas piscinas,
E bem à vista exibo esta etiqueta
Global no corpo que desiste
De ser veste e sandália de uma essência
Tão viva, independente,
Que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
Minhas idiossincrasias tão pessoais,
Tão minhas que no rosto se espelhavam
E cada gesto, cada olhar,
Cada vinco da roupa
Sou gravado de forma universal,
Saio da estamparia, não de casa,
Da vitrine me tiram, recolocam,
Objeto pulsante mas objeto
Que se oferece como signo de outros
Objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mar artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome noco é Coisa.
Eu sou a Coisa, coisamente.