quinta-feira, 8 de março de 2012

Kiki eu tenho a ver com isso?



Contam que antigamente, perderam-se na mata, durante uma guerra, dois índios, um Kame e um Kanhru, ambos da tribo Kaingáng. Um deles foi morto e o outro, ficando sozinho, criou um ritual para jamais esquecer do seu grande amigo ausente. Assim originou-se a festa do kiki ou ritual dos mortos da tribo kaingáng.

Hoje, no dia da mulher, eu visitei uma mulher kaingáng, na sua casa, em uma Aldeia Indígena não muito longe do lugar onde eu moro, o município de Chapecó. A cultura desta tribo desenvolveu-se à sombra das araucárias e são famosos os grafismos kaingáng que aparecem nas pinturas rupestres e na cerâmica arqueológica. No ritual do Kikikoi, os rezadores se reunem em três fogos acesos, em dias diferentes, no local conhecido como “praça da dança” ou “praça dos fogos”. Dessa maneira, eles invocam espíritos dos mortos e se embriagam para fazer contato com os espítitos...

Dona Camélia (nome fictício) me contou sobre o ritual e sobre todas as coisas da sua gente. Ela é viúva e conheci sua casa simples, onde o que mais se destaca é o enorme aparelho de som; seus "curumins" e a sua rica cultura, que tem se perdido, em meio à essa mistura com a gente branca.

Então, refleti sobre essa índia, essa guerreira, essa mulher... Observei as grandes diferenças entre ela e eu, mas também as enormes semelhanças entre nós duas. Pensei nos séculos de iniqüidade, evidentes naquele contexto em que nos encontrávamos, e que a minha gente teve muito a ver com isso. Pensei no preconceito que hoje impera entre eles e nós, falta de conhecimento sobre as origens de um povo que aprendeu a extrair, na medida da sua necessidade, o que a terra oferece para viver, dia após dia... E pensei sobre o que eu posso fazer por ela... Convidou-me a participar do seu ritual Kikikoi, para homenagear seu companheiro ausente e participar do seu mundo.

Achei que deveria registrar este solene momento, tão único em minha vida. Pequenos detalhes de uma cultura que está se perdendo, em meio à este nosso país tão magestoso! ...E, por algum motivo, eu fui chamada a fazer parte disso, hoje, no dia da mulher...

A foto: em meio à Aldeia, araucárias e o Rio Uruguai - Projeto de Extensão UDESC/CEO/Enfermagem 2012

3 comentários:

rita rebonatto disse...

Adorei ler o que vc escreveu demonstra em palavras toda a sensibilidade e sabedoria da mulher Carine.
Rita

Daniela Comiran disse...

linda mensagem

Lui disse...

Enormes diferenças e ao mesmo tempo grandes semelhanças!
Carine, isso demonstra a mulher sensível e inteligente, desvendando mistérios, às vezes longínquos como dos índios e modernos como seus olhos e sorriso demonstram desde pequena.
Parabéns!.