quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Coisas da vida


Ela, pretensiosamente normal, ele, supostamente louco, conversavam, em um dia comum:

Alice: O que tu me dizes sobre Frida? Era uma louca desvairada? Outra "artista esquizofrênica"? Tu já apreciaste suas telas sombrias?

Chapeleiro Maluco: A que mais me impressionou foi uma obra onde ela abraça Diego, como se fosse um bebê e ambos são abraçados por outros seres, transformando-se em um grande “Abraço Amoroso” – é este o nome da tela...

Alice: Que te impressiona na obra?

Chapeleiro: Por que pessoas sofrem? E como superam seu sofrimento trazendo ao mundo algo do imaginário, que completa nossa alma? Eu me pergunto sobre o sofrer dela e reflito sobre o meu sofrer: um padecer indigesto, da vida toda, que permite que eu viva e entreveja a imagem de um “vir a ser” que eu penso que nunca verei aqui.

Alice: ... Aqui... neste momento? Nesta vida? Falas de uma evolução do viver; uma sabedoria que só se adquire com o amadurecimento. O amadurecimento que brota da dor.

Chapeleiro: Sim, há momentos de dor, mas há também alegrias neste complexo paradoxo que é a vida. O que tu pensas sobre a vida, Alice? Qual a tua verdade?

Alice: A vida acontece em ciclos, eu acho... Imagino uma porção de círculos se desenhando ao mesmo tempo, em cada vida, às vezes se cruzando ou se misturando a outros círculos, de outras vidas, e tudo contribuindo para uma evolução conjunta. Cada círculo é importante sim, mas é quase insignificante se comparado ao todo. E, no final, é tudo a mesma coisa, a mesma energia. São historias que se fundem em uma: a historia da humanidade na Terra.

Chapeleiro: Achas que algum dia poderemos voltar? Eu gostaria de retornar como um anjo...

Alice: Tu querias retornar como um anjo porque o anjo é o ápice desta evolução, o ser perfeito, que não vamos conseguir alcançar nunca! Eu... não sei se acho possível voltar...

Chapeleiro: Quando tu falas em círculos eu imagino uma espiral em ascendência. Eu vejo o anjo não apenas como outro estado, mas um estado em que se possa fazer alguma coisa a mais... É como se tivesse uma segunda vida e esta, atual, fosse uma vida de dedicação a algo... a transcendência. Deve haver uma forma de ligar todas as realidades espirais, transcendendo-as, de uma maneira a ainda estar junto com a consciência do planeta.

Assim, os dois, em um desses momentos onde tudo parece tão claro para logo a seguir retornar à escuridão, construíam suas verdades provisórias e, corajosamente, tentavam desvendar algumas “coisas da vida”...

Um comentário:

Eliziane disse...

Amiga, vc sempre me colocando pra pensar! Bjs,