quarta-feira, 16 de março de 2011

Mariane




Mariane é como uma irmã para mim e conhece até os meus suspiros. Conhecemos-nos desde crianças e somos muito diferentes em se tratando de personalidade, a não ser por um detalhe: ela é tão sonhadora quanto eu, ou até mais. Só que Ane nunca teve medo de correr atrás dos seus sonhos e conseguiu realizar todos eles, mesmo aqueles sonhos que nós, pessoas sonhadoras, no fundo sabemos que são impossíveis. Acontece que minha amiga vê o mundo com lentes que transpõem a alma das pessoas. Espontânea, assim como minha filha Cecília, ela não tem nenhum problema em chegar para alguém que está atrás dela na fila do Banco, por exemplo, e comentar: “que olhos lindos você tem!” ou “esta cor cai muito bem em você!”. As pessoas ficam desarmadas diante dela, e sempre foi assim! Lembro que, quando éramos adolescentes e alguém comentava com maldade sobre uma coleguinha menos atraente ou que não se arrumava direito, Ane comentava, com pesar: “Ah, vai ver ela é inteligente ou querida, pra compensar!”
Mariane é linda, inteligente, autêntica, bem humorada e, quando éramos crianças, costumava usar os cabelos castanhos cacheados presos em duas “chiquinhas” nas laterais da cabeça. Os seus olhos castanhos e brilhantes eram – e ainda são – emoldurados por cílios enormes e a boca tinha o formato de um morango. Ela tinha uma bicicleta vermelha. Aos doze anos, era mais alta e mais desenvolvida do que eu. Descolada, me levava na garupa da bici por todos os lugares, aventurando-se pelas diferentes possibilidades de caminhos entre a sua casa e a minha e divertindo-se com o medo que eu tinha que nos perdêssemos.
Ane acompanhou de perto os meus dias difíceis, quando Cecília estava doente. Lembro-me da noite em que ela quis dormir com minha filha no hospital, pensando em me poupar por uma noite. Chegou à tardinha, “trepada” num enorme salto alto e toda maquiada, como sempre. Eu fiquei em dúvida se ela tinha mesmo vindo par dormir no hospital, mas logo percebi que sim, vendo a sua inseparável “frasqueira”, onde guardava todos os cremes, maquiagens e perfumes. Mandou-me pra casa descansar, dizendo que eu ficasse tranqüila porque ela daria conta de tudo. Cecília ficava num quarto com mais três crianças, perto da enfermaria, pois seu estado grave exigia que estivesse sob o olhar dos médicos e da enfermagem todo o tempo. Não interagia com as pessoas, estava se alimentando por sonda e usava fraldas, então, não havia muito que fazer por ela. Mesmo assim, eu costumava contar histórias e conversar, com música tocando num aparelho de CD portátil, o tempo todo.
Na manhã seguinte, quando voltei ao hospital, Ane estava oferecendo mamadeira para outra criança ao mesmo tempo em que conversava com a mãe de uma terceira, não perdendo de vista Cecília, que já estava acordada, escutando as musiquinhas dos CDs que deixei no quarto.
Jamais, enquanto eu viver esquecerei a imagem de minha amiga Mariane, sobre o salto alto, e sem perder a pose, cuidando das crianças, totalmente à vontade! Ninguém que a tivesse visto entrando no hospital, acreditaria que aquela moça, impecavelmente elegante, poderia estar numa situação parecida!
Ela é assim mesmo, ainda hoje, surpreendente!

Fotos: Aniversário de Mriane, ela no lado direito e eu do outro lado, apoiada em meu irmãozinho. Na outra foto, a contemporânea Ane, com seu amado Luiz.

3 comentários:

Ane disse...

Cari, amor da minha vida, suas palavras me emocionam e ecoam no meu coração! Não adianta, seus olhos insistem em ver somente as cores vivas das pessoas... isso pq seu coração é maior que o universo! AMO VOCÊ MINHA MANINHA... DO FUNDO DA MINHA ALMA!!!!

Eliziane disse...

LInda homenagem! Bjs,

Unknown disse...

Eu posso chamar ela de tia, então, né?